Com disposição para ser líder?

Descubra a forma como a disposição do líder altera o comportamento de toda a equipa

Lembra-se da última vez em que se sentiu mesmo bem a trabalhar?
Provavelmente sentiu-se óptimo e o seu trabalho rendeu imenso.
Reparou no efeito que a sua boa disposição criou nos que o rodeiam?
Ela pode ser incrivelmente contagiosa!

A boa disposição do líder

Infelizmente, a má disposição também é contagiosa e pode afundar a equipa que nos rodeia. Isto é verdadeiro, especialmente se for o líder. Como líder, a sua disposição aumenta ou diminui a performance da sua equipa.

É incrivelmente difícil estar sempre bem disposto. No entanto, vale a pena compreender como a sua disposição pode influenciar o desempenho. Aprenda algumas estratégias para aumentar os efeitos positivos e evitar os negativos.

Num dos meus últimos cursos de Liderança, em resposta a um debate sobre o efeito da disposição do líder na performance do grupo, um participante respondeu, de forma sentida e realista: “Não percebo como esperam que eu esteja bem disposto, durante toda a semana de trabalho!”.

É um ponto de vista bem baseado. Mas será que, como líder, se pode sequer dar ao luxo de pensar desta forma? Todos os estudos sobre performance de equipas apontam exactamente para o contrário. Existe um conceito francês, que se chama “Noblesse oblige”. Significa, de forma muito simplista, que a riqueza, poder e prestígio acarretam determinadas responsabilidades sociais; por outras palavras, os privilégios trazem deveres. É um privilégio termos a oportunidade de liderar pessoas, mas isso traz muitas responsabilidades. A principal responsabilidade é gerir a nossa própria disposição.

Num artigo impresso na Harvard Business Review (intitulado Leadership That Gets Results), Daniel Goleman cita pesquisas que provam que 30% dos resultados financeiros duma empresa (medidos por factores chave como crescimento do lucro, retorno das vendas, eficiência e rentabilidade) são determinados pelo clima da organização.

E qual é o factor principal, que influencia o clima da organização? É exactamente o líder. Em Primal Leadership:Realizing the Power of Emotional Intelligence, Goleman afirma que cerca de 50 a 70% da forma como os funcionários percepcionam o clima da organização provém das acções e comportamentos do seu líder. Um líder cria um clima que determina a disposição dos funcionários; esta disposição vai, por si, afectar a sua produtividade e nível de empenho.

Brilho ou Depressão?

Lembra-se de quantas vezes regressou a casa com um brilho interior, revivendo uma reunião com um líder animado e que o apoiou? Se calhar ainda recorda uma frase ou expressão dita pelo seu chefe, sobre o seu desempenho… Como isso o fez sentir-se bem, com vontade de regressar à empresa no dia seguinte para mostrar ainda mais as suas capacidades!! Esse é o “brilho” que permanece nas pessoas, que renova as suas energias, que as torna mais produtivas, que as estimula a alcançar ainda mais…

Agora pense no reverso do brilho: a amarga depressão… É o que fica em si, depois de receber comentários ácidos dum líder mal disposto. Como é que esses comentários afectaram a sua determinação de ultrapassar as dificuldades de certo projecto, de se empenhar com alma e coração no projecto, de querer continuar a dar o seu melhor?

Contágio e Consequências

Os livros sobre Liderança estão cheios de estudos que comprovam as consequências da disposição do líder. Um desses estudos envolveu 62 CEOS e as suas equipas de top management; mostrou que quanto mais a equipa fosse positiva, enérgica e entusiasta, mais trabalhavam duma forma cooperante, aumentando os resultados da empresa. O estudo mostrou ainda que se as empresas fossem geridas durante muito tempo por uma equipa que não comunicasse, os resultados afundavam.

A disposição do líder é fundamental na área de serviços, onde os funcionários mal dispostos irão, indiscutivelmente, afectar o negócio. Quando os responsáveis possuem uma disposição optimista e positiva, esta incentiva os funcionários, influenciando o seu desempenho e aumentando as vendas. Ou quer que os seus funcionários sejam atentos, educados e amáveis com os clientes, se na verdade estão enervados e sob pressão? O mau humor do líder é uma fonte de contágio: uma infecção emocional, que se espalha entre as pessoas de todas as equipa… Podemos aprender algumas coisas com a liderança militar. Imagine o efeito na moral das tropas, se o General nunca souber reconhecer os seus esforços? Imagine a energia criada por um líder constantemente ansioso, preocupado, irritado? A indecisão é contagiosa, transmite-se entre as pessoas… Pode tornar-se debilitante, pode passar a ser um hábito numa organização, em que as pessoas aprendem a trabalhar consoante a disposição do seu líder…

Inconsistente significa Imprevisível

Podemos argumentar que se pode desculpar uma má disposição ocasional, uma irritação, um desabafo… Desculpamos, muitas vezes, este comportamento com declarações tipo “Ela não consegue controlar-se às vezes, mas é tão boa profissional..” ou “Ele tem ideias fantásticas, mas tem a tendência de gritar com os outros, quando está stressado”. É como se a genialidade fosse uma desculpa para o mau comportamento… Até pode ser, em alguns ambientes, mas a mensagem que envia aos colaboradores é de inconsistência, o que é uma característica terrível, em qualquer líder. Queremos que os nossos líderes sejam previsíveis, porque esse factor nos dá conforto e segurança. Um líder imprevisível cria ansiedade (ou, em certos casos, medo), que afecta de forma negativa o desempenho e a produtividade.

Claro que nenhum líder sai do elevador, de manhã, com a intenção de criar mau ambiente à sua volta. No entanto, ocorrem problemas durante o dia que transtornam qualquer um… Tenha em atenção, contudo, que não estamos a defender uma versão deturpada de liderança, com sorrisos falsos e uma alegria fictícia. Os colaboradores detectam facilmente sorrisos não genuínos e não suportam líderes que os infantilizem.

A disposição certa?

Claro que não existem soluções fáceis para gerir as emoções, num dia a dia difícil, em que os líderes têm de agir e decidir rapidamente. Podemos, contudo, retirar alguns conselhos dum outro artigo da Harvard Business Review, intitulado Primal Leadership: The Hidden Driver of Great Performance.

Em primeiro lugar, é importante notar que a disposição dum líder causa o maior impacto possível, quando é positiva. Deve, no entanto, estar de acordo com aqueles que o rodeiam. Daniel Goleman chama a isto a “ressonância dinâmica”: “a boa disposição estimula um desempenho melhor, mas não faz qualquer sentido que o líder conte piadas se as vendas pararam ou se a empresa se está a afundar… O executivo mais eficaz mostra atitudes e emoções que vão de encontro à situação existente, se bem que numa perspectiva optimista, de melhoria. Eles respeitam os sentimentos dos outros (mesmo o mau humor ou o derrotismo) mas também se tornam modelos, para que se evolua com esperança. As três palavras chave são “optimismo”, “esperança” e “humor”.

Tal como Churchill disse, os líderes são “vendedores de esperança”.

Passos para um melhor desempenho

Então, quais são as recomendações específicas? A sua disposição e comportamento afectam o desempenho. Como podemos trabalhar para obter um comportamento de liderança consistente e emocionalmente inteligente, que crie sucesso para si e para os outros?

Aqui ficam algumas sugestões:

1. Comportamento em reuniões

Observe friamente o seu comportamento no decorrer de reuniões, que são potenciais momentos de stress. O seu comportamento é um modelo positivo desde o início? Ou impõe o seu próprio ritmo, baseado na forma como se sente, nesse momento? O seu objectivo deve ser uma atmosfera calma, descontraída, positiva e consistente.

2. Procure o lado positivo dos outros

Muito antes dos livros de Liderança estarem na moda, o escritor francês André Malraux disse que um dos objectivos principais dum líder é tornar os outros cientes da grandeza que possuem. Torne-se conhecido, dentro da sua organização, por sempre alguém que procura sempre o melhor, nos outros. Isso vai incentivar boa vontade e é excelente para os negócios!

3. Leia o clima

Sabe ler o clima da sua equipa e da organização onde se insere? Consegue descrever de forma exacta qual é a atmosfera emocional? É positiva, energizada? Ou está derrotista? Quando estão perto de si, as pessoas parecem ligeiramente apreensivas ou até cautelosas? Tente perguntar a alguém de confiança, quais são as mudanças, na sua ausência…

4. Seja Agradável e Cooperante

Se é um líder emergente e não considera que ter uma personalidade agradável seja uma prioridade, esforce-se por desenvolver esta faceta. É quase impossível ter uma presença executiva, sem ela. Seja cooperante: partilhe, por exemplo, as ideias e soluções para determinados problemas.

5. Seja atraente, de forma emocional

No seguimento do ponto anterior, foque-se em ser emocionalmente atraente. Conhece o conceito de liderança ressonante? Os líderes ressonantes são indivíduos que têm a capacidade de gerir as suas emoções e as dos outros, duma forma que aumente o sucesso das suas equipas e organizações. No livro Resonant Leadership: Renowing Yourself and Connecting with Others through Mindfulness, Hope and Compassion, os autores Richard Boyatzis e Annie McKee explicam que estes líderes criam um ambiente emocional positivo na organização, inspirando as pessoas. Tal como o título do livro indica, estes líderes possuem três qualidades chave: consideração, esperança e compaixão. Englobe-as, no seu arsenal enquanto líder duma equipa!

6. Gerir as emoções da mudança

Preocupe-se especialmente sobre a forma como gere as suas emoções, de a sua empresa estiver a passar por um processo de mudança. A forma como o faz, numa altura tão crucial, pode ajudar ou prejudicar o processo de mudança. Sabe-se bem que a resistência à mudança é emocional e que é a mais difícil de ultrapassar. Como responsável pelo processo de mudança, não evite as emoções que o acompanham. Crie o clima e vá gerindo as emoções – ou serão elas a fazê-lo.

Se a noção de emoções no local de trabalho o incomoda, se não gosta de falar de empatia e consideração, intuição ou debates sobre inteligência emocional, incentivo-o a reconsiderar essa opinião. Cultive a sua capacidade de intuição, escute as opiniões que lhe mostrem o quanto pode melhorar em termos de acções, no local de trabalho. Para além da racionalidade, inclua a intuição como uma ferramenta preciosa do seu kit de liderança. Einstein disse-o da melhor forma: “A mente intuitiva é uma oferta sagrada e a mente racional um servo leal. Criámos uma sociedade que honra o servo e ignora a dádiva.”

Como líder, tem nas suas mãos a ferramenta com a qual controlar a intensidade do empenho que a sua equipa coloca na organização. Numa metáfora, um líder optimista oxigena o sangue dos seus colaboradores: é uma transfusão nas artérias da sua empresa. E pode ser uma das contribuições mais importantes que você pode fazer, como líder…